sexta-feira, 25 de julho de 2008

RONHENTA

Foto/Arte: Derinha Rocha

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Meu amor é assim: linda por vida. Mas também, uma onça mordida da pá virada que arrebita o pau da venta, desaforada e chaleira fervente, sentida, me sacaneia toda malvada.

Para ela tanto faz, se vestida ou nua. E diz que me ama até debaixo d´água. Ou na lua.

Quando quer, me acarinha, me aguça e se esfola toda. Engole o que é meu – come com farinha -, me surrupia e me enrola. E grita exigente que eu lhe foda, agora, até a última gota.

Quando quer, me dar seu amor com urgência. Ali na cama, nua estirada e possessa quita todas as pendências.

Enquanto sonha assanhada, se faz da mais vil sem-vergonha, safada. Cavalga sem cerimônia e contorce em si a agonia da insônia. Treme dos pés à cabeça e não dar o braço a torcer. Encucada, faz bronca espessa e arenga até o sangue dar na canela a valer. Dissimula, inventa trapaça e por fim fode feliz em estado de graça.

Quando a minha língua na pele dela encosta, ela vai à míngua, vira cadela no cio com tempero que eu gosto. Basta um cheirinho no cangote, ela se arrepia, se mija, rebola, me faz serventia toda dengosa. Caçoa de mim, genista, marrenta. Tira a calcinha a sorrir e, quando nua, não se agüenta. Parte vadia a pular no meu ventre. E me aperta, espreme entre os seios e geme até vir o dia. E se esparrama arreganhada preu proceder à metida, enfiada, e desfruto do seu corpo, da sua carne lanhada.

Quando enfim goza, saciada, avalie. Ela me deplora, fecha pra balanço, me xinga e vai embora com a bunda de fora, nem aí.

©Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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M A R A V I L H O S O ! ! ! !

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O MEU AMOR

Foto/Arte: Derinha Rocha
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O meu amor

Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Chico Buarque

sexta-feira, 18 de julho de 2008

DESVELO

Foto/Arte: Derinha Rocha
DELE PARA ELA V
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Ela vem com o visgo da noite no postigo do regaço. E dela eu traço açoites e persigo afoito na força do meu laço. E renasço pela loa dos seus mistérios baços. Até mesmo os revertérios. Também eu caço o seu império de pernoite e instigo nela o coito no aperto dos meus braços. Não sei se faço ou mando ver, mas vou moer o trigo e até lamber o figo da sua altiva figueira, o fogo da sua viva fogueira acendendo o chacra do umbigo para que venha luzir comigo a despertar Kundalini e o amor. Vou esgueirar a vitrine de sua pelvis arqueada como uma gata que ferve esguia na volúpia arrepiada. A revelar alegoria na sua pose de sapo, onde sou devoto guapo até a flor do Lótus cobiçada se desabrochar, até encarnar nossa promiscuidade pra fundir a unicidade de verdadeiramente amar.


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segunda-feira, 14 de julho de 2008

VÔO

Foto/Arte: DerinhaRocha
DELE PARA ELA IV
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Tudo vai, tudo vem. Tudo vaivém. Tudo é vão. Tudo é senão água de bica que se solidifica e desmancha no ar. Tudo é bem algo mais, desde o miúdo ao farto graúdo, tudo é em vão. E então a asa desse avião me abraça tão cheia de graça como nunca mais. É sempre demais mesmo coisa tão simples no maior dos repiques do céu a voar. E já eu além de rapaz num vôo contumaz de viagem efêmera espremendo nas têmporas o pra frente e pra trás. De forma perspicaz ela me engole, xambrega e me bole no nosso carnaval. É festa carnal no pé do ouvido onde eu consigo nela bordejar. Trafegar na mão dupla contornando a drupa no maior sobe e desce. É quando se despe e ela decola, quase que se degola por seu bem-querer. E a bendizer, levanta a proa a provar furta boa no seu paladar. E a rebolar espalha a popa, se finca com a gota no maior vuque-vuque. Relaxo meu muque e aperto o cinto. Vou pro labirinto, um nirvana real. Divina colossal nossa etérea dança, ela nem mesmo se cansa nem entrega seus pontos. Bate firme no ponto, sem esmorecer. E eu a desfalecer batendo biela. É quando ela se esgoela na maior viagem, é tanta miragem de nem distinguir. É quando por fim, ela chega e aterrissa. E a gente desliza além do confim.
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

DÍSTICOS

Foto/Arte: Derinha Rocha
DELE PARA ELA III
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Num trote macio ela vai requebrando.
Uma égua no cio que vai me levando.
De quatro se entrega toda domada
E eu gozando vadio com a alma levada.
Mil vezes eu gozava, mil vezes ela gemia
Atravessando a tarde, a noite e o dia.
As entranhas vasculho de sua carne mansa.
Nessas águas mergulho levado na dança.
Tudo é muito real e queima e atiça.
Aproveito o ensejo onde teima a cobiça.
Cavalgo e me sirvo de toda abastança.
Sou mais que ser vivo nessa governança.
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quarta-feira, 9 de julho de 2008

OITO OU OITENTA

Foto/Arte: Derinha Rocha

DELE PARA ELA II .

Maior que a manhã é vê-la raiando cunhã com seu jeito pedinte no olhar. E a se esbaldar, é nela que o sol nasce dez vezes e se põe mais de mil vezes a cada instante com um fervor medonho, gritante, e eu dentro do sonho mais que galante marinheiro do mar.Maior que a tarde é vê-la ensaiando que invade com jeito ousado a se fartar. E se espalhar de oito a oitenta com as estações que inventa por mais de mil crepúsculos onde nem os menores escrúpulos sobrarão aos meus hereges e pagãos desejos dos meus desenfreados manejos sugando seu caldo e toda a mim submetida, como quem me entrega a vida e deixa tudo rolar.Maior que a noite é vê-la com todos açoites no seu jeito doce de se entregar. E retomar suada arguta leva e traz a pele disputa me exorcizar entre os seus seios e os sugo tão cheios de tanta vida, a me dar por guarida amadurecidos mamilos, exuberantes auréolas, onde jamais sequer eu vacilo e me aposso de sua alma etérea.Maior que o dia é vê-la gozando vadia com seu jeito tão plena em se dar. E a se arrepiar com minhas ásperas mãos sobre todos desvãos de sua arquitetura altaneira onde vou arrumar minha esteira adorando sua clepsidra vertendo a mais deliciosa cidra que é panacéia e é veneno. Não quero saber da odisséia nem quero sair do sereno.Maior que a vida é senti-la insana mendiga coração saindo pela boca, gritando feito louca a suplicar de emoção. É a hora da salvação onde já me condeno. Não faço por menos, quero seu inferno, onde o verso altivo e mais terno verte a poesia de vez. Na sua liquidez vez vem e me banha com o desaguar das suas entranhas sobre o poema de amar.

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terça-feira, 8 de julho de 2008

ESSA MENINA

Foto/Arte: Derinha Rocha
DELE PARA ELA I
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Essa menina é feita de lua. Ela voa na rua prontinha querubin. E me apronta tlin tlin no alto da campina onde tudo é cantina feita só de si. Ah, essa menina que dança com jeito, somente a gingar. Qual estrela lá mansa na unha matutina, desde sonsa ilumina onde antes supunha nunca existir. Ela está sempre aqui como chama na retina, como a grama que mina todo o quintal. E se faz de vestal de todos os presságios. Ela alucina ao contágio. E ela só vale ágio na sina do apelo a brilhar nos cabelos toda magia. O que eu mais queria: roubar o seu cheiro, seu secreto terreiro de tangerina. Ah, fulmina iminente – ela não é gente – é deusa a mendigar. Essa menina é feita de mar, intensa, quiçá, real mais divina. Quando vem cabotina só me desmantela. Ela vira a janela pronta pr'eu abrir. Essa menina chega com o olhar ardendo de vida. Quase desvalida com a boca nas asas que vaza e é guia perdidas esquinas, toda emoção repentina com o sopro de aguerrida na pele. O paladar que repele na maior febre, que tudo se quebre ao sol posto - a saliva com gosto de boa cajuína. Ela é tão traquina: o seio da boca sedenta. E venta maior ventania. E, todavia, se põe a chover: o corpo queimando o prazer. Essa menina é feita do rio que escorre ao quadril pra me afogar. Patati, patatá, é ela que me abriga como se eu fosse a viga que ela quer sustentar.Essa menina, bailarina da noite, em carne viva, vitalina, essa flor menina a me servir sucessivas entregas, peças que prega nos meus cinco sentidos.Essa menina é feita de peso: a coxa tatua o desejo que as pernas eqüinas rolam sobejo do sexo azul. Eu todo taful com seus pés nos meus braços que o abraço fulmina e lateja, água que poreja tão pequenina e vira ribeirão na luz feminina. Vingo-lhe a nuca que me ilumina e ela me sorri encantada, franzina com a gula que vai da glória à ruína.Essa menina e a mão culpada de amor. Ela brota, ereta, me socorre, me empesta. Salta da grota, na greta, virada na breca, capeta, na alvura exalta, cristalina. E tudo se arrasta, arrebata, contamina. E me larga no sopro. Meu corpo oficina. Maior serpentina de carnaval. E me faz imortal. Vem e ilumina a vida toda esquecida no meio da paixão. É quando, então, ela cisma do mundo e reduz quase tudo na palma da mão onde ela mais que altaneira me deita na esteira e me nina um milênio de paixão.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.