terça-feira, 8 de julho de 2008

ESSA MENINA

Foto/Arte: Derinha Rocha
DELE PARA ELA I
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Essa menina é feita de lua. Ela voa na rua prontinha querubin. E me apronta tlin tlin no alto da campina onde tudo é cantina feita só de si. Ah, essa menina que dança com jeito, somente a gingar. Qual estrela lá mansa na unha matutina, desde sonsa ilumina onde antes supunha nunca existir. Ela está sempre aqui como chama na retina, como a grama que mina todo o quintal. E se faz de vestal de todos os presságios. Ela alucina ao contágio. E ela só vale ágio na sina do apelo a brilhar nos cabelos toda magia. O que eu mais queria: roubar o seu cheiro, seu secreto terreiro de tangerina. Ah, fulmina iminente – ela não é gente – é deusa a mendigar. Essa menina é feita de mar, intensa, quiçá, real mais divina. Quando vem cabotina só me desmantela. Ela vira a janela pronta pr'eu abrir. Essa menina chega com o olhar ardendo de vida. Quase desvalida com a boca nas asas que vaza e é guia perdidas esquinas, toda emoção repentina com o sopro de aguerrida na pele. O paladar que repele na maior febre, que tudo se quebre ao sol posto - a saliva com gosto de boa cajuína. Ela é tão traquina: o seio da boca sedenta. E venta maior ventania. E, todavia, se põe a chover: o corpo queimando o prazer. Essa menina é feita do rio que escorre ao quadril pra me afogar. Patati, patatá, é ela que me abriga como se eu fosse a viga que ela quer sustentar.Essa menina, bailarina da noite, em carne viva, vitalina, essa flor menina a me servir sucessivas entregas, peças que prega nos meus cinco sentidos.Essa menina é feita de peso: a coxa tatua o desejo que as pernas eqüinas rolam sobejo do sexo azul. Eu todo taful com seus pés nos meus braços que o abraço fulmina e lateja, água que poreja tão pequenina e vira ribeirão na luz feminina. Vingo-lhe a nuca que me ilumina e ela me sorri encantada, franzina com a gula que vai da glória à ruína.Essa menina e a mão culpada de amor. Ela brota, ereta, me socorre, me empesta. Salta da grota, na greta, virada na breca, capeta, na alvura exalta, cristalina. E tudo se arrasta, arrebata, contamina. E me larga no sopro. Meu corpo oficina. Maior serpentina de carnaval. E me faz imortal. Vem e ilumina a vida toda esquecida no meio da paixão. É quando, então, ela cisma do mundo e reduz quase tudo na palma da mão onde ela mais que altaneira me deita na esteira e me nina um milênio de paixão.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.